terça-feira, 16 de maio de 2017

Confusão na política linguística pode sacrificar capacidade de pensamento - bispo timorense

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Díli, 15 mai (Lusa) -- O bispo timorense Basílio do Nascimento considerou hoje que a confusão na política linguística em Timor-Leste, que não permite o domínio do português e consequentemente de uma gramática, pode sacrificar a capacidade de pensamento de duas gerações.

"As pessoas julgam que aprender a língua é pura e simplesmente a aquisição de léxico. Para se fazerem entender é necessário ordenar o léxico. E isto tem a ver com uma gramática", disse à Lusa o presidente da Conferência Episcopal Timorense e bispo de Baucau.

"Já não me interessa se é uma língua ou outra. O que me preocupa é que estamos a sacrificar duas ou três gerações, sem capacidade de pensamento porque para se pensar é necessário dominar uma gramática", considerou.

Notando que os timorenses falam várias línguas, mas que a maioria as fala mal, o bispo disse que o tétum não tem ainda gramática organizada e, por isso, não pode contribuir para o ordenamento do pensamento.

"Se não querem o português, muito bem. Mas ponham uma língua cuja aprendizagem é capaz de estruturar o pensamento das pessoas para possibilitar aos timorenses a capacidade de pensar. Se não, não vamos longe", considerou.

Basílio do Nascimento falava à Lusa à margem do 3.º Congresso Nacional da Educação, que começou hoje em Díli, e de onde sairá, espera o executivo, um conjunto de consensos para as políticas educativas.

Numa altura de reflexão sobre o setor educativo, no primeiro grande debate nacional em quase 10 anos, o bispo destacou a "importância da língua como instrumento vital e crucial para a existência de uma nação".

Mais do que olhar para a língua "apenas como um meio de comunicação" é necessário aprofundar a visão de que a língua é "um instrumento crucial para a afirmação de uma nação" e "um instrumento de transmissão de ideias e de pensamentos".

Essencial, disse, para que "uma nação se faça entender pelos outros e para que a população se entenda a si própria" mas também como "elemento de unidade" nacional.

Sobre as várias 'experiências' levadas a cabo nos últimos anos - como o projeto das línguas maternas ou alterações ao currículo - Nascimento disse que não se percebe se foram feitas "por amor ou por desamor a Timor-Leste" ou apenas para "criar confusão e fazer com quem a população sinta que é difícil e não vale aprender a língua".

Para o bispo a ideia da política linguística foi "pura" mas faltou "vontade, meios e recursos para a implementar e desenvolver", tendo, em alguns casos "havido obstáculos exteriores que porventura fizeram pressão para isto não andar tão depressa".

Ainda assim, disse, "as coisas vão caminhando um pouco mais positivamente" com cada vez "mais pessoas nas instituições a pedirem para aprender o português".

ASP // VM

Lusa/Fim
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