quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O fim do mito timorense

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Por Francisco Sarsfield Cabral - Renascença

Depois da descolonização portuguesa ter originado guerras civis e enormes sofrimentos, com Timor “limpamos a cara”.

Nenhuma causa mobilizou e uniu tanto os portugueses como a libertação de Timor-Leste do jugo da Indonésia. O governo português, então chefiado por António Guterres, foi incansável na acção diplomática, decisiva para dar a independência aos timorenses. Nessa altura, e durante muitos anos, Xanana Gusmão era recebido em Portugal como um herói.

É possível que o nosso entusiasmo pela causa timorense tivesse algo a ver com o facto de a descolonização portuguesa ter originado guerras civis e enormes sofrimentos em países como Moçambique e sobretudo Angola. Com Timor “limpávamos a cara”. Daí uma certa mitificação de Timor-Leste.

A violência com que magistrados portugueses foram agora expulsos de Timor, como se de criminosos se tratasse, acaba com o mito. Além de interferência antidemocrática do poder político (Parlamento e Governo) no poder judicial, esta insólita decisão e a forma hostil como foi feita, provavelmente reflectindo o incómodo de interesses timorenses ou australianos com processos judiciais, deve limitar ao mínimo a cooperação de Portugal com Timor-Leste.
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