sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Alegadas vítimas de D. Ximenes Belo revelaram abusos a advogado português em 2003


Observador - João Francisco Gomes 

Dois ex-alunos da Casa Pia de Lisboa de nacionalidade timorense terão revelado, em 2003, ao advogado Pedro Namora os abusos sexuais que alegadamente sofreram por parte do bispo timorense D. Carlos Ximenes Belo — o Nobel da Paz timorense sobre o qual em setembro recaíram acusações de abuso sexual de menores.

A informação é avançada esta sexta-feira pelo Correio da Manhã, que cita declarações do próprio Pedro Namora, advogado e ex-aluno da Casa Pia que foi um dos rostos daquele caso de abusos que marcou a justiça portuguesa.

Em declarações ao jornal, Pedro Namora revelou que soube dos abusos “num encontro de casapianos, num restaurante, em Lisboa, em 2003”. Nessa ocasião, dois ex-alunos timorenses, na altura com cerca de 40 anos, abordaram-no para lhe contar “os abusos do bispo D. Ximenes Belo”, que teriam acontecido em Timor, entre 1974 e 1976. Na altura dos abusos, as alegadas vítimas teriam entre 11 e 13 anos.

O advogado disse ainda ao Correio da Manhã que não se lembra se informou as autoridades ou não, mas supõe que “é provável que o tenha feito”, como fez “em relação a todos os casos” que lhe foram relatados. Pedro Namora acrescentou que “os dois timorenses estavam tristes e ainda traumatizados pelo que lhes sucedeu”.

No final de setembro deste ano, o jornal holandês De Groene Amsterdammer publicou um conjunto de testemunhos de alegadas vítimas de abusos sexuais que teriam sido cometidos por D. Ximenes Belo durante o seu período como administrador apostólico de Díli, em Timor-Leste.

O jornal explicou ainda que as investigações àquela situação remontavam já a 2002, ano em que o caso foi inicialmente denunciado por um timorense, irmão de uma das alegadas vítimas.

Nesse mesmo ano, D. Carlos Ximenes Belo renunciou ao seu cargo de administrador apostólico de Díli e o Papa João Paulo II aceitou a renúncia, apesar de ter apenas 54 anos de idade. Na altura, foram invocados motivos de saúde para a saída de Ximenes Belo, que viria mais tarde a fixar-se em Portugal.

As nova revelações sobre a conduta de Ximenes Belo em Timor lançam dúvidas sobre os verdadeiros motivos que levaram à saída do bispo.

Um dia depois de o jornal holandês ter noticiado as denúncias, o Vaticano confirmou que recebeu as primeiras alegações sobre os comportamentos do bispo em 2019 e, no prazo de um ano, impôs um conjunto de sanções a Ximenes Belo, incluindo limitações aos movimentos e ao exercício das suas funções, bem como uma proibição de contactos com menores ou com Timor-Leste.

Estas medidas cautelares foram reforçadas em 2021 e o bispo aceitou os castigos, confirmou o Vaticano.

Desde que foram conhecidas as alegações contra Ximenes Belo, o bispo, que residia em Portugal, encontra-se em parte incerta.

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