quarta-feira, 12 de março de 2014

Ex-guerrilheiro acusa polícia timorense de ter atuado com brutalidade contra grupo que lidera

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Díli, 12 mar (Lusa) - O líder do Conselho de Revolução Maubere, Mauk Moruk, acusou hoje a Polícia Nacional de Timor-Leste de ter atuado com brutalidade durante a operação realizada na segunda-feira em Laga, a leste de Baucau, num acantonamento daquele grupo.

"Eles foram lá com aquela brutalidade, com aquela força de todos os tamanhos e calibre, com armas de todo o tipo. As armas mais sofisticadas que estão a utilizar na polícia, mas para quê aquelas armas? É para comer, é que o povo está faminto, precisa de comida, bebida, medicamentos", afirmou, em conferência de imprensa, o antigo comandante das Brigadas Vermelhas da resistência timorense.

Questionado pela agência Lusa sobre se os homens reunidos no acantonamento reagiram à presença da polícia, Mauk Mouk disse: "Claro que reagiram, se foram para nos matar não há outra alternativa, quem nos dá recebe o mesmo". 

"Mas é pena que não tínhamos armas, como os outros inventavam no parlamento, senão era o fim da macacada deles todos", salientou, acrescentando que também não era isso que queriam porque a sua revolução é pacífica.

Sobre o facto de elementos do seu grupo terem lançado uma bomba artesanal, Maruk Moruk respondeu: "Soube que um oficial que estava em cima de uma viatura e ameaçou com uma granada o pessoal, que respondeu com gritos de fúria e de desprezo. Uma granada defensiva das forças de segurança, ele estava a brincar com aquilo e depois aquilo caiu e o homem foi atrás e aquilo explodiu".

"Agora vêm acusar-nos de que fomos os primeiros a atirar. Mentira", gritou Mauk Moruk.
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O antigo comandante timorense confirmou elementos do grupo que lidera cortaram a estrada "com a colaboração do povo em geral" e também que duas pessoas foram detidas. 

"Ouvi dizer que foram maltratados em Baucau e já pedi aos advogados para seguirem. Os casos estão entregues aos nossos advogados", disse.

Nas declarações aos jornalistas, Mauk Moruk considerou ainda que a violência é "inaceitável em qualquer parte do mundo", garantindo que vai continuar os procedimentos judiciais para registar a sua organização.
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A operação da polícia ocorreu no âmbito da resolução aprovada na semana passada pelo parlamento timorense que condena o que considera serem tentativas de instabilidade e ameaças ao Estado protagonizadas pelo Conselho de Revolução Maubere, liderado por Mauk Moruk, e pelo Conselho Popular da Defesa (Democrático) da República de Timor-Leste (CPD-RDTL).

Para implementar a resolução do parlamento, a polícia timorense está a pedir aos membros daqueles dois grupos para cessarem atividades, para cooperarem e entregarem as suas fardas militares e entregarem-se às forças de segurança. 

Os dois grupos são acusados pelo parlamento de realizarem paradas militares, recolherem ilegalmente dinheiro junto das pessoas e ameaçarem e fazerem acusações contra as autoridades do Estado.
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Segundo a polícia, durante a operação em Laga foram detidas duas pessoas e a explosão de uma bomba artesanal provocou ferimentos num polícia.

O CPD-RDTL é um grupo de ex-veteranos, liderado por António Matak, que após a restauração da independência realizou várias manifestações em Díli a exigir o reconhecimento da independência proclamada em 1975, bem como a saída das organizações internacionais.

Em março de 2013, o Governo timorense já tinha acusado o CPD-RDTL de violar a lei e desrespeitar os direitos humanos, nomeadamente através da ocupação de terras particulares, públicas e da comunidade.
Na semana passada, a polícia ocupou a sede daquele grupo em Díli.

Mauk Moruk é o antigo primeiro comandante das Brigadas Vermelhas das FALINTIL, que abandonou a guerrilha em 1985. Segundo o próprio, entre 1985 e 1990 esteve internado no hospital militar de Jacarta, tendo depois seguido para Portugal e daí para a Holanda.

O ex-comandante regressou a Timor-Leste em outubro e criou o Conselho de Revolução Maubere, que exige a dissolução do parlamento, a demissão do Governo, a convocação de eleições, a restauração da Constituição de 1975 e a alteração para um regime presidencialista no país.

MSE // VM
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