quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Ex-primeiro-ministro alerta para risco de "dependência psicológica"

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Díli, 19 dez (Lusa) - O ex-primeiro-ministro de Timor-Leste Mari Alkatiri considera que a "situação psicológica de dependência" dos timorenses em relação às Nações Unidas pode criar dificuldades após a saída, até 31 de dezembro, da missão internacional. 

Em entrevista à agência Lusa, Mari Alkatiri fez um "balanço positivo" da presença das missões de manutenção de paz da ONU em Timor-Leste, mas, por outro lado, lembra que criou dependência. "Criou também uma certa situação psicológica de dependência. 

Nós vivemos diferentes fases de dependência: dependência de 500 anos de Lisboa, depois 24 anos muito duros de Jacarta e depois 13 anos desta coabitação democrática, mas de partilha de poder" com as missões internacionais, afirmou o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que chefiou o Governo entre 2002 e 2006. 

 O líder da oposição timorense lembrou que, após a saída da última missão das Nações Unidas em Timor-Leste, até 31 dezembro, o país vai pela "primeira vez" experimentar uma fase de independência em termos de exercício de poder e antevê "dificuldades para 2013". 

 "As pessoas podem pensar que estarmos sós significa fazermos o que quisermos e já temos algumas indicações nesse sentido", afirmou. Para Mari Alkatiri, é preciso reforçar que a "paz política não são as forças de segurança que garantem e a estabilidade social depende muito da paz política". 

 "Se os políticos, as lideranças políticas continuarem a querer politizar as forças de defesa e segurança então teremos problemas", acrescentou. 

 "Nós temos estado na oposição nos últimos cinco anos e meio, procuramos a todo o custo contribuir para reforçar a democracia. Não quisemos politizar as forças, politizar a polícia e esperamos que isso tenha sido uma boa lição para todos os outros partidos políticos e lideranças políticas", salientou o ex-primeiro-ministro. 

Em relação à recente Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), que termina o seu mandato no próximo dia 31, colocando um ponto final a 13 anos de missões da ONU no país, Mari Alkatiri disse que a presença internacional foi "dissuasora". 

A UNMIT foi estabelecida em 2006 na sequência da grave crise política e militar no país, que provocou dezenas de mortos, milhares desalojados e a implosão da polícia nacional. 

Durante a crise de 2006, Mari Alkatiri demitiu-se de funções, tendo sido substituído no cargo por José Ramos-Horta, que um ano mais tarde foi eleito chefe de Estado. 

 Já em 2008, e durante a presença da UNMIT, José Ramos-Horta foi ferido com gravidade num atentado e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, escapou ileso a uma emboscada. 

"Pergunta-se quem realmente resolveu os problemas, se foi a UNMIT se foram os timorenses. A presença da UNMIT é mais dissuasora, mas foram os timorenses que resolveram os problemas", sustentou o líder da Fretilin. 

Para Alkatiri, a Fretilin "contribui de uma forma decisiva para criar o clima de paz e estabilidade", porque o Governo " fracassou na sua missão fundamental de desenvolver o país" e as verbas usadas do Fundo petrolífero só geraram "aparências" 

 "Se a Fretilin quisesse explorar isso contra o Governo trazendo as pessoas para rua teria sido uma catástrofe, mas nós não fizemos isso. 

Estamos satisfeitos por termos contribuído para a paz e estabilidade e a nossa função é continuarmos a fazer isso", acrescentou. 

MSE // HB 

 Lusa/Fim
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