quinta-feira, 13 de outubro de 2022

PM timorense mantém confiança em membros do Governo, espera conclusão investigação

Díli, 13 out 2022 (Lusa) – O primeiro-ministro timorense disse hoje que mantém a confiança em três membros do seu Governo que alegadamente terão feito pressão para afastar o responsável do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), afirmando que há que esperar investigações.

“Deixa as investigações correrem. Eu prefiro que as investigações corram. Com certeza mantenho confiança [nos membros do Governo]. Há um princípio de presunção de inocência e temos os tribunais para decidir”, afirmou Taur Matan Ruak que é também ministro do Interior.

O chefe do Governo respondia à Lusa depois da reunião semanal com o Presidente da República, José Ramos-Horta, que decorreu no Palácio Presidencial em Díli.

Em causa estão suspeitas, veiculadas pela imprensa timorense de alegada intervenção de membros do seu Governo no processo relacionado com a apreensão na semana passada de 130 mil dólares (134 mil euros) e de 40 milhões de rupias indonésias (2.680 euros) que estavam a ser transportadas para fora do país.

Fonte policial disse à Lusa que os três cidadãos timorenses que transportavam o dinheiro estarão ligados a José Naimori, presidente do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), um dos três partidos do Governo, com fonte partidária a explicar que os fundos se destinavam a comprar material partidário.

Fontes aeroportuárias explicaram que depois da deteção do dinheiro, o próprio Naimori se deslocou ao aeroporto para tentar reaver o dinheiro, tendo-se dirigido também ao aeroporto pelo menos dois membros do Governo, ambos do KHUNTO.

Os fundos foram confiscados pelas autoridades policiais, dos serviços de inteligência e de investigação criminal, já que estavam acima do que pode ser transportado para o estrangeiro sem declaração expressa do Banco Central de Timor-Leste (BCTL).

Tanto o dinheiro como outra informação recolhida pela Polícia Científica de Investigação Criminal (PCIC) foram já remetidas ao Ministério Público, confirmou hoje à Lusa fonte da força policial.

A polémica em torno ao caso aumentou, porém, depois de se terem tornado virais imagens videoamadoras de uma reunião em que participaram, entre outros, o próprio Naimori, os vice-ministros da Justiça, José Edmundo Caetano, e do Interior, António Armindo, e um investigador do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), Gastão Piedade.

Nas imagens, Gastão da Piedade acusa o vice-ministro da Justiça de tentar intervir na investigação, explicando que se tem que cumprir a lei que obriga a identidade o proprietário e a origem do dinheiro, antes que possa ser devolvido.

No vídeo, o próprio Naimori (marido da vice-primeira-ministra Armanda Berta dos Santos) liga para o primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, para pressionar sobre o caso, passando depois o telefone a Gastão Piedade.

O agente repete o que diz a lei sobre estes casos, tendo o chefe do Governo confirmado aos jornalistas que se limitou a dizer que a lei é para ser cumprida.

Nas últimas 48 horas a imprensa timorense alega que o vice-ministro do Interior, Antonio Armindo, terá escrito ao comando da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) para demitir Gastão Piedade.

Questionado pela Lusa sobre essa notícia, Antonio Armindo negou que tenha escrito qualquer carta sobre esse assunto para a PNTL, referindo que afastar Gastão Piedade é competência do ministro do Interior, ou seja Taur Matan Ruak.

“Nego categoricamente ter escrito qualquer carta. Obviamente que há sempre cartas que são recebidas com referências a agentes ou à PNTL, enviadas por várias pessoas, até pela sociedade civil. Mas isso é tratado internamente”, disse Armindo.

“Em situações de denuncias ou queixas, o assunto é investigado e se houver ações disciplinares a tomar, são tomadas. O que parece passar-se neste caso é uma crescente politização do que aconteceu”, afirmou.

Na segunda-feira o deputado José Agustinho Sequeira “Somotxo”, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) – um dos partidos do Governo - e presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Segurança Nacional do Parlamento Nacional, defendeu uma investigação ao caso por alegada obstrução de justiça por membros do Governo.

“Os membros do Governo podem ter cometido o crime de obstrução à justiça, uma tentativa de impedir a ação das autoridades policiais e judiciais. Esta ação deve ser investigada e cabe aos serviços de investigação avançar na investigação”, disse Somotxo.

“Este é um assunto muito sério e que tem que ser investigado até às últimas consequências. A lei é para todos, sejam membros do Governo ou qualquer outra pessoa”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre o caso e a polémica lançada em torno à sua investigação, o chefe de Estado, José Ramos-Horta, disse que, para já, preferia não comentar.

“Isto é um imbróglio que cabe ao Governo esclarecer, pois está de posse de informações sobre circunstâncias e dados concretos. Este caso ainda não subiu para o patamar da Presidência da República. Por isso não vou comentar”, disse.

ASP // MAG 

Lusa/Fim

Foto, Facebook

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